O cacau desempenha um papel crucial na economia brasileira, sendo um dos principais produtos agrícolas do país e base para a indústria do chocolate, que movimenta bilhões de reais anualmente.
Um estudo recente publicado na revista Environmental Conservation confirma que a manutenção de áreas florestais favorece a produtividade, especialmente no Pará e Bahia, estados que concentram 93% da produção nacional.
A pesquisa, realizada por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e das universidades federais do Pará (UFPA) e de Goiás (UFG), analisou 161 municípios da Bahia e do Pará. A área total estudada foi de cerca de 552 mil hectares, e os pesquisadores compararam dados de produtividade entre os períodos de 1985 a 1987 e 2019 a 2021. O estudo observou variáveis como a cobertura florestal, a extensão das áreas cultivadas e o grau de fragmentação das florestas.
No Pará, os resultados foram claros: municípios que preservaram suas florestas viram um aumento de cerca de 65% na produtividade do cacau desde a década de 1980. Em contrapartida, regiões que sofreram desmatamento intenso apresentaram perdas significativas, com algumas chegando a uma redução superior a 40%.
Já na Bahia, embora a maioria dos municípios tenha experimentado quedas na produtividade, aqueles que investiram na recuperação de suas florestas apresentaram perdas menos acentuadas.
Gustavo Júnior de Araújo, pesquisador do ITV e principal autor do estudo, destacou que a perda de cobertura florestal é um fator determinante para a queda na produção do cacau.
“Os municípios da Bahia vêm sofrendo com a degradação da Mata Atlântica desde o século 18 e a conversão de florestas para agricultura nessa região foi muito intensa”, explica o pesquisador.
A pesquisa também revelou que os efeitos da conservação florestal variam conforme o tamanho das propriedades.
No Pará, por exemplo, em municípios onde o cacau não é o principal produto, apenas as grandes propriedades – com mais de 10 hectares – se beneficiaram da maior cobertura florestal.
Isso se deve aos maiores recursos financeiros e à infraestrutura disponível para esses produtores. Por outro lado, nas pequenas propriedades, a distância das florestas densas aos centros comerciais e a dificuldade de o a tecnologias limitam a produtividade.
O estudo alerta para os impactos negativos dos monocultivos de cacau a pleno sol, uma prática cada vez mais adotada por produtores que buscam lucros rápidos. Além da incerteza sobre a sustentabilidade desse modelo, a expansão desses monocultivos ameaça as florestas naturais e seus serviços ecossistêmicos essenciais, como a regulação climática e o controle biológico de pragas.
Araújo defende a implementação de práticas agrícolas sustentáveis que integrem a conservação florestal à produção de cacau, como os sistemas agroflorestais. Ele sugere o incentivo a políticas públicas que apoiem a transição para esses modelos e a realização de mais pesquisas sobre os impactos dos monocultivos. O objetivo é garantir a rentabilidade dos produtores sem comprometer o meio ambiente.
Agência Bori. Conservação florestal garante a produtividade do cacau no Pará e na Bahia, mostra estudo. 2025
Environmental Conservation. Tropical forests and cocoa production: synergies and threats in the chocolate market. 2025