A Amazônia costuma ser descrita como um tapete verde contínuo, mas, na prática, cada hectare segue seu próprio como ecológico. Um estudo recém-publicado na Communications Biology mediu 13 características de 812 gêneros arbóreos, desde a densidade da madeira até o tamanho das sementes, e descobriu que esses atributos se organizam em dois grandes eixos de estratégia de vida, refletindo “ritmos” distintos de crescimento e sobrevivência .
A pesquisa, liderada pelo Naturalis Biodiversity Center (Países Baixos) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e a University of Leeds, entre dezenas de outras instituições , oferece uma lente inédita para entender por que algumas áreas concentram árvores com crescimento relâmpago enquanto outras abrigam “gigantes” que levam décadas para acumular biomassa.
Os cientistas agruparam atributos foliares (espessura, teor de nitrogênio), reprodutivos (massa de sementes, presença de néctar) e estruturais (altura máxima, densidade da madeira) para cada gênero. Em laboratório, essa mistura de medidas revelou dois vetores principais: o já famoso espectro “rápido–lento” das folhas, que vai das espécies de retorno rápido dos nutrientes às de folhas duradouras, e um gradiente estatura, recrutamento, no qual árvores baixas e de muitos rebentos contrastam com espécies altas, de sementes maiores e recrutamento esporádico.
Quando os dados subiram da escala de espécie para mais de 2 000 parcelas de floresta real, algo surpreendente aconteceu: os dois vetores convergiram num único “super-eixo” que contrasta florestas de crescimento acelerado (folhas finas e madeira leve) com formações de ritmo lento (folhas grossas, madeira densa). Essa síntese ajuda a explicar por que áreas próximas podem estocar quantidades muito diferentes de carbono.
Se o como muda de um lugar para outro, quem segura a batuta? A resposta veio dos mapas: a fertilidade do solo explica a maior parte da variação nos traços comunitários. Em solos pobres de areia branca ou escudo cristalino, prevalecem espécies “poupadoras”, que investem em tecidos duráveis; já nos aluviões ricos em nutrientes dominam árvores “gastadoras”, rápidas no uso dos recursos.
Esse controle edáfico reforça que políticas de uso da terra precisam levar em conta não só o clima, mas também a geologia invisível sob nossos pés.
Modelos globais de vegetação têm dificuldade em representar a diversidade amazônica. Incorporar o “super-eixo” funcional e sua ligação direta com a química do solo pode melhorar previsões de estoque e sequestro de carbono, afinando cenários de mudança climática e até cálculos de crédito de carbono.
Além disso, a descoberta de zonas funcionais amplas, florestas rápidas em várzeas, lentas em platôs pobres, oferece um atalho valioso para gestores escolherem áreas-chave de conservação. Proteger mosaicos de solos variados significa resguardar tanto “usinas” de produtividade quanto “cofres” de biomassa de longo prazo.
Functional composition of the Amazonian tree flora and forests. 3 de març0, 2025. ter Steege, H., Poorter, L., Aguirre-Gutiérrez, J. et al.